sábado, 6 de outubro de 2012

Setenta anos de Cruzeiro!

                     Em 02 de janeiro de 1921 nasceu em Belo Horizonte a instituição esportiva de origem italiana chamada Palestra Italia. Tal instituição reunia sob as cores da bandeira italiana os italianos que para Belo Horizonte vieram e seus descendentes, a maioria já nascida na capital construída com o suor de seus pais e avós.
        Quis o destino que aquela instituição crescesse e se tornasse em um grande clube de futebol que, apesar da tenra idade, já amealhasse grandes conquistas sobrepujando os outros times mais antigos e pertencentes à elite mineira, quando da deflagração do conflito mundial que arrasou a Europa na década de 1940.
        Quando o Brasil juntou forças ao lado dos aliados, as potências do eixo tornaram-se inimigas e a origem italiana do Palestra trouxe sobre o Clube do Barro Preto e seus sócios a dúvida sobre seu patriotismo e o temor de que passassem a colaborar com o inimigo italiano. Porém, os laços com a antiga pátria já haviam se rompido em boa parte e novos laços já estavam consolidados com a Pátria que os acolhera. O Palestra, já àquela época, se tornara uma potência esportiva nacional, conhecida e respeitada em todo o Brasil e como tal, estava inserido no mundo desportivo brasileiro.
        Porém, de nada adiantava ser brasileiro. Precisava demonstrar que era brasileiro e assim, o Governo Brasileiro sancionou uma lei que obrigava a todas as instituições que trouxessem no nome alusões aos países do eixo mudassem de nome. E coube ao Palestra Italia de Belo Horizonte dar a maior demonstração de civismo dada entre todos as instituições que tiveram que, à força, serem rebatizadas.

         Em 07 de outubro de 1942, apenas trinta e oito dias após a declaração de guerra contra os países do eixo, o Conselho Deliberativo do Palestra Italia resolveu, após algumas controvérsias, escolher o nome com o qual trilharia seu caminho de vitórias e conquistas no cenário mundial dos esportes. Naquela data, em reunião conturbada na qual o presidente Ennes Cyro Poni renunciou devido a divergências entre sócios que queriam que continuasse o nome de fundação e outros que apoiavam a mudança obedecendo à lei, Oswaldo Pinto Coelho, ex-presidente do clube, sugeriu que o nome passasse a ser Cruzeiro Esporte Clube. Em sua explanação lembrou que a constelação do Cruzeiro do Sul era (e ainda é) o símbolo maior da República. Nas armas, no brasão, no selo, na bandeira e em todas as representações da Pátria a imagem do Cruzeiro resplandece. Para agradar aos italianos e seus descendentes foi sugerido que o uniforme passasse a ser azul como o da equipe nacional italiana. Para o grande público foi divulgado que a cor azul representava o azul da bandeira brasileira onde estavam colocadas as estrelas da constelação. No céu azul as estrelas pendiam assim como na bandeira e na camisa do Cruzeiro Esporte Clube. Tal decisão amenizou os ânimos da ala italiana mais rebelde, liderada pelo Conselheiro Aniello Anastasia, este totalmente contrário à mudança do nome do Clube.
        No ano de 2012, em 07 de outubro, o Palestra Italia completou setenta anos sob o nome de Cruzeiro Esporte Clube. Sob a nova e patriótica denominação transformou-se na mais gloriosa instituição esportiva italiana fora da Itália. Títulos em profusão, não só no futebol mas, em vários outros esportes tornaram o Cruzeiro Esporte Clube em referência de capacidade, competência e competitividade entre tantos clubes que brilham pelo mundo afora.
        Ao contrário do que pregam adversários sobre o fato do Palestra Italia ter mudado de nome para Cruzeiro, tal fato demonstra o sentimento de adaptação e pertencimento dos italianos e seus descendentes à sociedade brasileira que tão bem os acolheu. Carregamos no peito o símbolo nacional e representamos o Brasil onde vamos e onde disputamos nossos jogos, escrevendo páginas heroicas e imortais.
        Aos que nos criticam a mudança de nome respondo com o refrão de nosso hino pós 1942 que representa bem a saga, não só dos antigos ítalo-brasileiros como da grande Torcida Cruzeirense espalhada pelo mundo afora e que já é a quinta maior do Brasil:
        “Cruzeiro querido, tão combatido e jamais vencido”!