Recentemente
assistimos a cena do presidente do Atlético Mineiro, pateticamente, pedir
socorro à Presidente Dilma para que liberasse os valores retidos pela
Procuradoria Geral da Fazenda Nacional quando da venda dos direitos do atleta
Bernard.
Se, a princípio,
pode parecer que se trata de uma iniciativa inovadora do mandatário alvinegro,
na verdade é mais um capítulo de uma novela que teve início há pouco tempo e
tem outros protagonistas. O presidente do Vasco da Gama também pediu ajuda às
autoridades federais com o escopo de conseguir regularizar a situação fiscal e
conseguir as certidões negativas e assim, conseguir o patrocínio da Caixa
Econômica Federal para seu clube. Muitos são os presidentes que estão tentando
acertar a vida de suas instituições antevendo a possibilidade de receber
recursos federais, seja através de patrocínios de estatais e também através da
Lei de Incentivo ao Esporte.
A grande
verdade é que a bolha da impunidade estourou. E estourou com força. Estourou em
um momento de ciclo virtuoso do futebol brasileiro, onde a economia e o evento
Copa do Mundo inflaram os contratos, costumes e patrocínios no mundo da bola.
Os contratos de transmissão estão altos, os preços de ingressos estão
altíssimos e as relações entre clubes e atletas estão indecentes de caro.
Atletas que atravessaram o oceano a procura do Eldorado, descobriram com
atraso, que tal Eldorado sempre se localizou em terras do Novo Mundo. Ronaldos,
Ronaldinhos, Freds e tantos outros deixam o Velho Mundo em troca de uma
prosperidade no novo.
A fórmula
usada pelos clubes brasileiros, e que deu muito certo no Cruzeiro e São Paulo
até o final do ano de 2008, foi a de revelar e vender grandes talentos para
clubes europeus e com o dinheiro amealhado, montar times competitivos. Com a crise
econômica mundial, que teve seu início em outubro de 2008 e perdura até hoje, os
grandes clientes do futebol brasileiro (clubes europeus) tiveram o poder de
compra sucateado e romperam com tal fórmula. Clubes portugueses, espanhóis,
italianos entre outros passaram a ser mais seletivos na escolha dos jogadores
onde investiam. No caso do Cruzeiro o grande cliente sempre foi Portugal,
destino de vários jogadores formados na Toca da Raposa I. Lembro-me de ter
conversado com o então Presidente Zezé Perrella sobre a mudança de postura que
se mostrava necessária implementar, privilegiando o aumento de receitas em
outras atividades como bilheteria e patrocínios, diminuindo a dependência da
venda de jogadores. A sugestão se mostrou correta no ano de 2013 após alguns
anos de penúria que quase destruíram a fama de bom dirigente que Perrella
sempre teve.
Uma grande
e importante modificação nos últimos anos foi a maneira como o Governo Federal
tem tratado a questão das dívidas fiscais dos clubes de futebol. Se antes havia
uma grande leniência por parte das autoridades e órgãos fiscalizadores, hoje há
um grande movimento de cobrança e reversão de inadimplência, o que é louvável.
O brasileiro que tem 27,5% de seu salário retido em seu pagamento a título de
imposto de renda, deve se revoltar com tanto carinho dispensado às instituições
desportivas. Os costumes de não pagar impostos, descontar impostos na folha dos
empregados e não repassar aos órgãos arrecadadores (é crime), fazer contratos
de trabalho utilizando subterfúgios para burlar impostos e tantos outros
artifícios agora estão levando os dirigentes a procurarem o fisco para que
regularizem suas situações.
Capítulos
da novela como a venda de Bernard, Vitinho, Dedé e tantos outros estão
proliferando. A possibilidade de pagar os salários astronômicos com a venda de
jogadores, de solução está virando dor de cabeça com a ação peremptória da
Fazenda Nacional. É sempre bom lembrar que a Fazenda e a Caixa Econômica
Federal sempre estiveram abertos às negociações e se, neste exato momento, um
dirigente procurar os órgãos gestores do fisco nacional, conseguirão renegociar
seus débitos e conseguirão as certidões negativas de débitos federais tão
sonhadas.
Mas o que
se quer, de novo, é fazer mais uma manobra para facilitar a obtenção de tais
certidões e rolar a dívida. Por que o setor futebolístico precisa de um
programa de saneamento específico, com perdões, prazos e condições especiais?
Isto já foi feito com vários REFIS, com a Timemania e várias outras situações.
O que houve? Usaram tais programas para a simples rolagem de dívida e empurrar o
problema para o sucessor. Sou contra qualquer manobra de favorecimento. Que os
clubes, como qualquer mortal brasileiro, procurem os órgãos competentes do
Governo Federal e acertem suas contas. Movimento que tem pregado tal atitude é
o Bom Senso Futebol Clube que tem exigido o fair-play fiscal. Resta saber se, a
guisa de fair-play fiscal, os atletas aceitarão conversar sobre os valores
exagerados de salários e premiações que recebem.
Devo deixar
claro que acho que o jogador de futebol tem que ser o melhor remunerado entre
todos os que recebem dinheiro de alguma maneira no mundo da bola. Eles são os
artistas e é a eles que os torcedores, telespectadores e etc. procuram
assistir. São as imagens deles, em patrocínios, campanhas e chamadas de
programação, que estão alavancando audiência, faturamento de bilheteria e
aumento do número de sócios torcedores. Assim sendo, devem receber muito. O
grande problema é a estrutura montada em torno de cada atleta: procuradores,
empresários, assessores de imprensa, relações públicas, pessoal de manutenção
de sites e redes sociais, Marias Chuteiras, amigos e fornecedores em geral. Cada um quer
retirar uma fatia do faturamento do craque. Tal estrutura infla o salário do
boleiro e detona as finanças do clube.
Lembro-me
quando Benito Masci assumiu o Cruzeiro na década de 1980 e encontrou o clube
com os telefones cortados, sem luz e água, e montou uma equipe de trabalho que
procurou sanear as finanças, sob a batuta do grande Conselheiro Aristóteles de
Ávila. Trocou grandes craques por jogadores medianos e desconhecidos e passou
alguns anos no ostracismo do futebol brasileiro. Sua atitude corajosa forjou um
time vencedor, que nas mãos de seu sucessor e irmão César Masci, voltou a
figurar entre os times mais importantes do futebol nacional, tornando-se o
Melhor Clube de Futebol do Século XX segundo a FIFA.
Sugiro aos
mandatários que sigam o exemplo que inesquecível Benito Masci e façam planejamentos
financeiros exeqüíveis com a capacidade de geração de caixa de seus clubes,
levando em conta não somente as receitas, mas principalmente as despesas, que
devem aumentar sobejamente se, realmente, estão levando a sério a vontade de
pagar suas dívidas fiscais. Procurem a Fazenda e a Caixa e regularizem suas
situações.
Talvez o
grande problema seja que tal adequação propicia resultados em médio prazo e as
torcidas, os dirigentes com aspirações políticas, a mídia e enfim, o mundo
futebolístico, exigem resultados imediatos!