quarta-feira, 30 de julho de 2014

Torcida bipolar


Cecília Meireles
Ou Isto ou Aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

        Quando era garoto e estava sendo alfabetizado, estudava em livros diversos, como "As mais belas estórias" e também "As mais belas poesias". Uma poesia da qual nunca me esqueço, é a que transcrevi acima, de Cecília Meireles. Ela sempre me vem à cabeça quando estou em dúvida sobre qualquer assunto.
         Atualmente, o assunto que mais tem levantado dúvidas entre os torcedores do Cruzeiro é o que reza sobre a convocação de jogadores Cruzeirenses para a Seleção Brasileira. A grande maioria agora é contra a convocação, sendo que há menos de trinta dias a grande lamentação era a de que, na Seleção Brasileira que disputou a Copa do Mundo, não havia nenhum jogador celeste.
         Eu, particularmente, fiquei muito frustrado em não ter uma seleção para torcer durante a Copa do Mundo. Para a do Brasil é que não torceria mesmo, pois aquele ajuntamento de jogadores não me representava e muito menos representava o meu Brasil.
         Para mim, a Seleção tem que representar o futebol brasileiro e não times estrangeiros. Tem que ser uma seleção que conte com o que há de melhor em nosso país. Logicamente, alguns destaques excepcionais jogando no exterior devem ser convocados.
         Quando era menino, e lia Cecília Meireles ou Henriqueta Lisboa, os melhores jogadores em ação no país eram os que representavam a nação com as chuteiras. Era comum ver seleções que tinham a defesa de um time, o meio campo do outro e o ataque de um terceiro. Lembro-me que a maior seleção de todos os tempos, a de 1970, tinha três jogadores do Cruzeiro. A escalação base era: o goleiro do Fluminense, lateral direito do Santos, um beque do Cruzeiro e outro do Vasco e o lateral esquerdo do Grêmio. O meio de campo era composto de um jogador do Santos e outro do Botafogo. Já o ataque era fenomenal com um jogador do Botafogo, um do Santos, mais um do Cruzeiro e um do Corinthians. Como pode-se notar, todos os times grandes tinham um representante no escrete nacional. Era muito legal torcer para a seleção que tinha os jogadores de sua cidade e principalmente de seu time. Era um tempo em que havia mais amor à camisa, tanto do clube quanto da Seleção Brasileira. Aliás, já escrevi neste blog sobre como eram as coisas quando eu era adolescente:
http://anisiociscotto.blogspot.com.br/2014/04/no-meu-tempo-era-assim.html


         Nestes dias a cotação do time do Cruzeiro e seus jogadores subiu demais. Nada mais lógico que, treinador novo querendo fazer coisas novas, prestigie o time que tem enchido os olhos dos especialistas do futebol. Convoque do goleiro ao ponta esquerda de tal time.
         Muitos são contra, achando que, o fato de convocar o jogador do Cruzeiro vai nos enfraquecer. A memória curta e seletiva de alguns já deletou que muitos pontos que fizemos, neste campeonato de 2014, conseguimos usando um time reserva pois, o nosso titular estava sendo poupado para os jogos da Libertadores. Temos banco e precisamos valorizar nosso elenco com repetidas convocações. Como seria bom se, a exemplo do Bayern de Munique, nosso time fosse a base da seleção de Dunga! Se isso acontecer, que se pare o campeonato nas datas FIFA, assim como acontece nos campeonatos europeus.
         Entendo o receio de muitos torcedores que não tiveram a oportunidade de viver a experiência de ter a seleção formada por jogadores que atuam no futebol brasileiro. Afinal, acho que a última seleção que teve a maioria dos jogadores atuando aqui, foi a de 1994 nos Estados Unidos.
         Acho que é hora de voltarmos a aquele simpático costume de prestigiar os clubes daqui. Afinal, a nossa torcida é quem instigou cantando: Não é mole não! O Cruzeiro é melhor que a Seleção!

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Estamos perdendo o bonde das oportunidades.


        No dia 25 de julho de 2014 a presidente Dilma recebeu os dirigentes de Clubes para discutir a situação de penúria em que vive o nosso futebol. Os clubes procuram uma maneira de resolver a grave situação em que se encontra o nosso principal esporte. Foi combinado que seja montada uma comissão para discutir tal assunto.
        Não sou, absolutamente, contra uma ajuda do governo federal aos clubes de futebol. Muito antes pelo contrário. Se o governo isenta as fábricas de automóveis, móveis e eletrodomésticos de impostos é justo que os clubes sejam ajudados. Porém, uma coisa é ajuda, a outra é perdão. Acho justo que haja um programa de parcelamentos para os clubes, mas entendo que os clubes tenham que levar a sério tais compromissos.
        Da maneira como foi colocada, a princípio, a proposta de uma troca de dívidas fiscais por investimentos em esportes olímpicos. Ora, muitos dos clubes que ora suplicam por condições especiais, são os mesmos que fizeram projetos olímpicos maravilhosos e, no decorrer de alguns anos, deixaram nossos atletas olímpicos com uma nota promissória em suas carteiras. A primeira providência da nova diretoria do Flamengo foi extinguir vários departamentos de esportes olímpicos. O presidente do Atlético Mineiro, desdenhando as conquistas do vôlei Cruzeirense, sempre se gabou de ser mandatário de um time de futebol e não ter a menor intenção de montar outro departamento de qualquer outro esporte. Como então poderia dar certo tal programa?
        É cultura nacional ter pena e relevar os desmandos de torcedores que assumem a direção de clubes de futebol. É aceitável, para a maioria dos brasileiros, que dirigentes de clubes sejam candidatos a cargos eletivos, assim como radialistas, repórteres, atletas e outros militantes esportivos (a esmagadora maioria sem plataforma política ou sem saber o que deve fazer um legislador).
        Do jeito que a coisa anda, haverá um acordo para o parcelamento das dívidas e todos receberão as tão sonhadas certidões negativas de débitos fiscais. Deverá haver uma contrapartida de comportamento quanto a pagamentos do próprio parcelamento e também de salários e outras obrigações. Espero que isto aconteça.
As últimas demonstrações de desvelo econômico dos dirigentes de clubes contratando craques vindos da Europa, ganhando mais aqui do que ganhavam lá, nos mostram que o fair-play prometido pode se transformar em fumaça muito rapidamente.
        O Cruzeiro possui uma tradição muito antiga de honrar seus compromissos. Desde salários, passando por pagamentos a fornecedores e tributos o clube do Barro Preto sempre foi conhecido como um exemplo a ser seguido. As perseguidas certidões negativas sempre foram uma constante em nossos arquivos. O que a maioria dos clubes persegue, nós já temos há décadas. O que tal comportamento exemplar nos favoreceu? Em que fomos beneficiados por ter comportamento tão ilibado?
        Na minha opinião, a qual expresso há muitos anos aos administradores do Cruzeiro, perdemos uma enorme oportunidade de sairmos à frentes da concorrência em diversos aspectos. Financiamentos bancários, projetos de leis de incentivo, recursos a fundo perdido do Orçamento Geral da União, recursos de ministérios diversos, patrocínios de empresas estatais e muitas outras fontes de recursos.
        Agora, que todos terão as certidões, nos restará reclamar que as empresas procuram as equipes do eixo Rio-São Paulo, que a imprensa privilegia os outros grandes clubes ou mesmo que os contratos cariocas e bandeirantes são mais polpudos que os nossos.
Mais uma vez perdemos a oportunidade de usufruir das vantagens que, a tantas duras penas, construímos e preservamos.
Faltam, aos nossos administradores, pessoas que estejam a serviço do Clube e conheçam o mercado e suas diversas fontes de receitas.
Temos sim, muita gente que sabe como gastar, e como temos! Temos gente que se desespera vendo a porteira dos gastos aberta e tem que se virar para honrá-los. Já geramos um contencioso enorme de pontes de safena!
Eu sonho, e trabalho, para que o Cruzeiro se transforme no maior Clube de futebol do Brasil. Seja uma potência olímpica e um amparo social para a comunidade de minha cidade. Gostaria que fosse o sonho de outros que militam nas mesmas sendas.