domingo, 16 de novembro de 2014

A validade dos triunfos.

          Ao retornarem para Roma após jornadas recheadas de vitórias e conquistas, os comandantes das legiões romanas eram recebidos pelo Imperador em uma solenidade chamada triunfo, na qual desfilava com parte de suas tropas e era aclamado pela população da cidade. Por questões de segurança, não desfilava a tropa inteira. A grande maioria ficava alojada ao norte de Roma, às margens de um rio chamado Rubicão. Havia um medo muito grande que a turba, ensandecida pela alegria da festa, tentasse transformar o general em Imperador. Com a presença de uma legião inteira no perímetro da cidade, tudo se tornaria mais fácil para o general.
        À frente do triunfo ia a biga (uma charrete puxada por dois cavalos) do general que recebia um agrado do Imperador quando passava perante o palácio. O general ia em trajes de gala e logo atrás dele ia um escravo que segurava uma coroa de louros sobre a cabeça do homenageado herói romano. Além de mostrar a todos os louros da vitória, repetia o tempo todo nos ouvidos do general a frase: "A glória e a vida são efêmeras!"
        Sábias palavras que traziam a todo instante à mente do general a lembrança de que aquele era um momento de duração fugaz, e o que importava, era o seu trabalho e dedicação à causa romana.
        Assim também deveriam ser as atitudes de quem gere a coisa pública e também as instituições privadas de grande apelo popular. As redes de comunicação, que são concessões públicas, os artistas, narradores e comentaristas esportivos, atletas e também os presidentes dos clubes de futebol, deveriam ter em mente que o sucesso e publicididade que os acompanham são fugazes e devem ser usados em benefício da comunidade e não somente em benefício próprio.
Muitos usam tal cartaz com o público e se elegem e assim enchemos nossas câmaras, assembléias e congresso com gente de visão restrita e que levam para tais recintos a triste máxima de que os fins justificam os meios.
        Porém, o que acontece hoje, e é um péssimo exemplo para as gerações futuras, é a questão do apego ao poder e de que os fins justificam os meios quando o assunto é manter-se no topo.
        No mundo do futebol, onde tenho militado por mais de vinte anos, não é diferente. Dinastias e fortunas são criadas simultaneamente. Virtudes e novos participantes são excluídos sem muita cerimônia e tais atitudes são aplaudidas pela turba que somente deseja ver seu time vencendo e sendo campeão custe o que custar. Quanto mais esperto for o dirigente, mais elogiado pela torcida e mídia será. Não são levados em conta a pobre e desvalida ética, os regulamentos, as leis e as regras de convivência. À medida que o poder do dirigente aumenta, as pessoas que os rodeiam, dentro e fora do clube, mais os prestigiam e aceitam suas atitudes, pensando em recolher um pouco das migalhas que caem de suas poderosas mesas. Imprensa se curva e o chama de polêmico, arrojado, apaixonado pelo clube entre outros adjetivos. Colegas de clube o bajulam e o fazem acreditar que realmente ele é aquilo que pensa ser e que não há outro ser mortal que possa sucedê-lo, a não ser que traga nas veias o seu próprio sangue e na carteira de identidade o seu sobrenome. Políticos os procuram para que integrem a carteira de puxa-votos de seus partidos. Assim se forma um ciclo vicioso de gente pouco interessada no bem comum em torno do dirigente.
        Vivemos dias nos quais a população está acordando para o retorno dos valores mais importantes na vida cotidiana. Políticos, empresários e bandidos estão sendo punidos quando cometem crimes contra o patrimônio público. Os clubes estão tentando retornar ao caminho da normalidade e da ética, tentando ajustar suas contas com o fisco e com a justiça. 
        Uma pena que alguns insistem em percorrer o caminho contrário destruindo o que era e parecia perene. Pena que pensam que recorrendo a antigas práticas se pepetrarão no poder. Chegará um momento no qual terão que passar o bastão e tal passagem pode ser uma decepção para o que entrega o poder. Tal processo já aconteceu em vários setores da vida pública, seja na política, nos clubes, na sucessão de empresas familiares.
        O que deve ser feito, em minha opinião no que tange aos clubes de futebol, é montar uma rede de pessoas que concordem com os princípios fundamentais, estabelecidos na origem do clube, e perseverar na defesa de tais princípios, dando oportunidade ao aparecimento de novas lideranças, novas práticas e principalmente, lembrando que a glória e a vida são fugazes, enquanto a ética, a moral, a verdade e a fraternidade são eternas. 
   

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Análise das Finanças do Cruzeiro em 2013.

No dia 31/12/2014 encerro meu mandato como Conselheiro Fiscal do Cruzeiro Esporte Clube. Entregarei a Presidência ao meu sucessor logo após a reunião que analisará as contas do Clube, o que deve acontecer no final de abril do próximo ano.
Sempre tive como postura a aproximação dos Conselheiros, Sócios e Torcedores do Clube, tentando, na medida do possível, esclarecer os dados sobre a vida financeira do nosso querido Cruzeiro.
Para não perder o costume, publico abaixo a matéria do blog Olhar Crônico Esportivo que publica uma análise da situação financeira do Cruzeiro, segundo as análises super competentes dos profissionais do Banco Itaú BBA.
No blog há várias análises, de quase todos os times do Brasil, que não copiarei aqui. Somente postarei a de nosso Clube. Entendo que, para os apaixonados pelo assunto, vale a pena dar uma conferida em outros clubes.
O link do blog é: http://globoesporte.globo.com/blogs/especial-blog/olhar-cronico-esportivo/5.html


Reunião do Conselho Fiscal (2012-2014) do Cruzeiro com o Presidente Gilvan. Da esquerda para a direita: José Odilon de Pina (Suplente), Prof. Vicente Vieira da Silva (2º Vice-Presidente), Geraldo Luiz Brinatti (1º Vice-Presidente), Anísio Ciscotto Filho (Presidente), Dr. Tulio José da Mota (Suplente) e Carlos de Souza Carmo (Suplente).


Olhar Crônico Esportivo

por Emerson Gonçalves

Cruzeiro Esporte Clube – Análise dos Clubes Brasileiros de Futebol 2014

Esse post é a transcrição da parte correspondente a esse clube no estudo. Como os demais posts anteriores, esse também é parte da cobertura do estudo feito por um grupo de profissionais da área de Crédito do Banco Itaú BBA.
Nessa série de posts individuais, ao contrário dos anteriores, as observações deste OCE estarão grafadas em itálico, como vemos agora.
Antes de começar a ler esse post, recomendo a leitura da Introdução – aqui.
Boa leitura.

Os caçadores estão chegando

Se em 2012 vimos um clube investindo pouco, com geração de caixa negativa, precisando de Adiantamentos de TV e utilizando do atraso de Impostos para se financiar, em 2013 a situação não foi muito diferente, exceto por dois aspectos: i) o investimento em formação de elenco aumentou substancialmente; ii) isto acarretou na conquista do Campeonato Brasileiro da Série A.
Apesar do crescimento das Receitas em 57% em 2013, os Custos e Despesas também cresceram substancialmente (48%), de forma que a geração de caixa manteve-se negativa, agora em R$ 3 milhões. Ocorre que as Receitas cresceram amparadas num pequeno aumento das Cotas de TV, mas o mais significativo foi a Bilheteria, que em 2012 arrecadou R$ 11 milhões e saltou para R$ 64 milhões, em função da ótima campanha no Brasileiro e da reinauguração do Mineirão.
De fato os clubes Mineiros sofreram muito por jogar fora da Capital na ausência do Mineirão, mas este crescimento ocorreu por conta da boa campanha no Brasileiro, e quem garante sua sustentação em 2014? E apesar de ser um contumaz vendedor de atletas, esta é uma Receita que pode não ocorrer, de forma que o clube está sempre na linha d´água em termos de capacidade de gerar novas receitas.
Em contrapartida, os Custos cresceram impulsionados pelo Investimento de R$ 35 milhões na formação do elenco Campeão Brasileiro. Mas como sempre lembramos, Custos são de longo prazo e as Receitas precisam quase que em sua maioria ser capturadas anualmente.
E se em 2012 uma parte importante da sustentação foi o Adiantamento de Cotas da TV, em 2013 eles continuam presentes, de forma um pouco mais tímida, mas o clube utilizou de "adiantamentos operacionais" para bancar sua estratégia de aquisições. Então, R$ 15 milhões são valores parcelados de aquisição de direitos econômicos, outros R$ 7 milhões foi o natural aumento da necessidade de pagamento de tributos, ainda recebeu R$ 10 milhões referente à venda de atletas e isto tudo somado deu fôlego. Mas são movimentos pontuais, que tendem a não se sustentar no longo prazo, o que abre um buraco potencial importante que precisará ser preenchido com receitas extraordinárias, como novas vendas de atletas.
Além disso, o clube por dois anos seguidos obteve "financiamento" via impostos renegociados - foram R$ 22 milhões em 2012 e mais R$ 16 milhões em 2013 - e isto também contribuiu para ajuste do caixa. Na verdade, práticas antigas e comuns do mundo do Futebol.
O resultado foi o título Brasileiro, mas a que custo no longo prazo? Possivelmente o mesmo que lhe custou alguns anos de resultados ruins após a ótima fase de 2003.
PERSPECTIVAS 2014
O clube manteve sua base, seu treinador, fez mais alguns investimentos e possivelmente aposta na força da torcida e na obtenção de resultados esportivos para sustentar sua estratégia. Não dá para saber até quando isto funcionará, mas sempre há chance do castelo de cartas ruir a qualquer momento. Esportivamente tem chances elevadas de sucesso em 2014, como vemos até o momento no Campeonato Brasileiro.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Dívida de clubes brasileiros com o Governo Federal aumenta em 2014

Reproduzo aqui o artigo do blog Goal, por ser muito interessante e trazer números atualizados das dívidas fiscais dos Clubes para o ano de 2014.
Tal artigo pode ser encontrado no link: http://www.goal.com/br/news/3599/futebol-nacional/2014/10/28/5576341/d%C3%ADvida-de-clubes-brasileiros-com-o-governo-federal-aumenta

Importante notar que os valores continuam aumentando, inclusivo os referentes ao Cruzeiro, que apesar de serem valores pouco expressivos em relação à geração de receita, evidenciam um comportamento diferenciado de outros anos.

Boa leitura!


Dívida de clubes brasileiros com o Governo Federal aumenta em 2014



Atlético-MG, Fluminense, Botafogo e Vasco foram os que mais viram o valor aumentar
As dívidas dos principais clubes brasileiros com o Governo Federal cresceram em 2014, com um valor total de R$ 2,18 bilhões devidos à União em relação aos R$ 2 bilhões de dezembro do último ano, segundo informou o UOL. O Atlético-MG foi o primeiro da lista dentre os que aumentaram os débitos federais, seguido por Fluminense, Botafogo e Vasco da Gama.
Segundo a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN), o Galo mineiro dobrou sua dívida: de R$ 120 milhões para R$ 272 milhões. O Fluminense saltou de R$ 90 milhões para R$ 162 milhões e o Botafogo, atolado em dívidas, saiu de R$ 166 milhões para R$ 199 milhões. O Vasco foi de R$ 135 milhões para R$ 153 milhões. Os times paulistas apresentaram um aumento um pouco menor, mas ainda significativo.
A dívida do Santos cresceu R$ 8 milhões (de R$ 57 milhões para R$ 65 milhões). O Palmeiras foi de R$ 39 milhões para R$ 46 milhões e o Corinthians, com o maior valor no estado, teve aumento de R$ 4,5 milhões em relação a 2013: R$ 142 no total. Já o São Paulo teve um aumento de “apenas” R$ 380 mil. No entanto, o clube sofre com um rombo de R$ 7 milhões mensais e já admite um 2015 sem grandes contratações.
“Não temos como fazer uma projeção concreta (de quando vai equilibrar as contas). Ainda vamos fazer o orçamento de 2015, mas será mais um ano difícil (...) Claro que vamos ter que fazer contenção. É óbvio que não dá (para grandes contratações). Vamos usar a base”, disse o presidente do time do Morumbi, Carlos Miguel Aidar, para o blog do Rodrigo Mattos, da UOL.
A dupla Gre-Nal manteve o controle das despesas. Somando os valores de tricolores e colorados, a dívida aumentou R$ 6,5 milhões. Atual campeão brasileiro e líder da edição 2014 do torneio, o Cruzeiro saltou de R$ 7,8 milhões para R$ 14 milhões de dívida. Único clube do Rio de Janeiro a exercer um controle mais rígido em relação à dívida federal, o Flamengo viu o seu valor aumentar em R$ 234 mil. Mesmo assim, o total de R$ 253 milhões faz do Rubro-Negro o segundo maior devedor entre os brasileiros.
Ao todo, as dívidas dos 12 principais clubes do Brasil aumentaram em R$ 300 milhões no primeiro semestre de 2014, segundo a PGFN. As dívidas com o Governo Federal não são as únicas dos clubes brasileiros, que também precisam pagar débitos estaduais, municipais e bancários.