terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Uma cidade em minha vida: Arnhem, Holanda.



                Sempre fui fascinado pelo assunto Segunda Guerra Mundial. Tudo o que me traz informações sobre aquele período da História do Mundo me chama a atenção e atrai. Filmes, revistas, livros, modelos de montagem de aviões, dioramas e etc. Talvez pelo fato de meu pai ter servido o Exército naquela época e, após dar baixa, ter sido convocado para a FEB ( http://anisiociscotto.blogspot.com.br/2012/05/os-ciscottos-na-primeira-guerra-mundial.html ), tenha me aguçado o espírito guerreiro.
        Entre os filmes há um favorito: Uma ponte longe demais! Um filme americano de 1977, dirigido por Richard Attenborough, com roteiro baseado no livro de mesmo nome de Cornelius Ryan, adaptado por William Goldman. Um desfile de astros e uma estória emocionante.

Capa do DVD do filme!

        Em setembro de 1944 o Marechal Montgomery planejou uma operação contra a Alemanha, que visava concluir a guerra antes do natal daquele ano. Sua intenção era lançar grande número de paraquedistas atrás das linha alemãs na fronteira entre Holanda e Alemanha. Os paraquedistas tomariam as pontes que cruzavam o Rio Reno e unidades terrestres viriam pelas estradas para consolidar a ocupação feita pelos paraquedistas. Uma série de avaliações erradas fez com que milhares de paraquedistas americanos e principalmente ingleses e poloneses saltassem sobre a Holanda, pousando sobre divisões blindadas, e de elite, alemãs. No caso do ingleses, pousaram sobre a cidade de Arnhem, às margens do Rio Reno. Foi um massacre.
        Em abril de 2012 recebi a notícia de que iria conhecer a Holanda acompanhando o time sub-20 do Cruzeiro, que iria participar de campeonatos naquele país. Torneios em Terborg, Den Haag e Amsterdam. Rapidamente entrei nos sites de consulta e procurei saber sobre os locais onde jogaríamos e ficaríamos hospedados, tendo em mente que eu poderia visitar algum dos locais onde combates foram travados. Qual não foi a minha surpresa ao perceber que, Terborg, ficava a poucos quilômetros de Arnhem, principal cidade da Província de Gelderland! Arnhem era justamente a cidade onde os paraquedistas ingleses desceram e onde estava a ponte que dava o título ao meu filme favorito!

O hotel de Haterstein em setembro de 1944, com o comandante dos paraquedistas ingleses, General Urguhart.

O hotel, hoje museu, nos dias atuais.

        Em maio chegamos a Terborg e minha expectativa estava no máximo. No primeiro dia de Holanda, já procurei saber como chegar a Arnhem e quais os roteiros a seguir. Fui sozinho no dia seguinte. Não convidei ninguém para ir comigo pois, não queria que nada atrapalhasse aquele momento tão especial: eu no set real de meu filme favorito. Peguei o trem e fui até Harteinstein, cidade limítrofe com Arnhem, onde os ingleses desceram e fizeram o seu quartel general em um hotel local. Atualmente, no prédio do antigo Hotel, há um museu sobre a ação dos paraquedistas britânicos na Batalha de Arnhem.  Visitei o museu e seus arredores, sempre com a sensação de que retornava no tempo e visualizava os locais mostrados no filme. Foi muito emocionante. No subsolo do museu há um local que se chama “A experiência do paraquedista” onde o campo de batalha foi reconstruído e você anda pelas ruas tendo a sensação de que está no centro da batalha. Muito real e excitante, com os ruídos de metralhadoras, granadas e gritos de soldados em alemão e inglês.
        Vizinho ao hotel/museu há o cemitério militar de Osterbeek onde 1.680 paraquedistas ingleses estão sepultados. Após visitar o museu fui conhecer o cemitério. Me impressionou a beleza do lugar e como os holandeses ajudam a preservar aquele Campo Santo: todos os anos os pais levam seus filhos para que enfeitem as tumbas, reverenciando aqueles que deram suas vidas para libertar o povo holandês do jugo nazista. Fiz várias fotos e aproveitei bastante o silêncio e a calma. Muito bom para meditar como a vida pode ser cruel. Dos 9.000 militares lançados naquela localidade, quase 20% dos paraquedistas morreram em combate! Fiz um post sobre o local em meu blog http://anisiociscotto.blogspot.com.br/2012/06/cemiterio-militar-de-osterbeck.html .

Cemitério Militar de Osterbek.

        Mas o mais emocionante estava por vir: peguei o trem e fui para a vizinha Arnhem. Da estação peguei uma das ruas que passam pelo centro e terminam no boulevard às margens do Reno e caminhei até a ponte. A Ponte John Frost! Frost foi o comandante inglês a quem coube tomar a ponte, defendida por uma Divisão Panzer, dispondo de apenas algumas centenas de paraquedistas com armas leves. Estar na ponte onde tantos deram a vida para mantê-la ou tentar tomá-la, foi como estar assistindo um jogo do Cruzeiro em pleno gramado do Mineirão! Revivi e imaginei as emoções dos que participaram de página tão heroica e imortal!

A Ponte John Frost vista das margens do Rio Reno.

Placa nomeando a Ponte como John Frost.

A Ponte longe demais!

        Após o ano de 2012, retornei a Arnhem em 2013 e 2014. A cidade passou a fazer parte da minha vida e a conservo sempre com carinho em minhas lembranças e no meu coração. Não me canso de visitá-la, hoje com sua calma e seu centro histórico lindo e conservado, mesmo após tanta destruição.
        Espero retornar a Arnhem novamente. Cada vez que lá vou, descubro um pouco mais da História da Segunda Guerra Mundial e do espírito de luta do povo holandês e da bravura dos ingleses!

domingo, 4 de outubro de 2015

Sobre o fascismo em Belo Horizonte nos idos de 1923...

Um certo blogueiro escreveu, e outro exultou pois havia provas de uma edição de jornal, que dentro do Palestra Italia de Belo Horizonte, havia em 1923, simpatizantes do governo de Benito Mussolini.
Ora, não precisavam ter pesquisado tanto! Bastava me perguntar! Eu afirmaria que sim. Havia uma boa quantidade de adeptos do governo fascista no Palestra e, com certeza, nos outros clubes de Belo Horizonte, àquela época. A admiração a Mussolini e seu governo promissor, que se iniciara poucos meses antes, era global! Em todo o mundo se discutia a maneira como aquele ex-socialista de Milão endireitara a Itália após as agruras da Primeira guerra Mundial. O mundo ainda atônito com a Revolução Russa ocorrida seis anos antes, via naquele governante de gestos amplos e teatrais, com um discurso de reerguimento do antigo Império Romano como um dos baluartes contra a ação comunista que crescia por várias partes do mundo.
Mussolini e seu governo fizeram muitos adeptos pelo mundo. Àquela época, os governos centralizadores e fortes atraiam a atenção por várias partes do mundo. A Alemanha desenvolveu o seu modelo de fascismo, Portugal, Espanha, Argentina e até o Brasil com Getúlio Vargas e seu Estado Novo. Havia aqui também os Integralistas. Se os adeptos de Mussolini eram identificados por suas camisas negras, o alemães eram identificados por suas camisas cor cáqui, os integralistas brasileiros eram por suas camisas verdes.
Várias edições de jornais brasileiros anunciavam as melhorias e progressos que os italianos de Mussolini faziam. Várias instituições brasileiras adotavam modelos de administração dos italianos. A nossa Previdência Social, com seus institutos, e nossa legislação trabalhista, tiveram inspiração nos modelos italianos.
Nos idos do início da década de 1920, a partir de outubro de 1922, admirar o governo fascista não era pouco comum não. Aliás, era muito comum. A partir do final da década de 1930 e início da de 1940, quando Mussolini mostrou sua política externa se aliando a Hitler e aderindo ao eixo Berlim-Roma-Tóquio, aí sim, o mundo viu o engano da propaganda fascista e nazista.
É sempre bom lembrar que, mesmo em países extremamente resistentes a tais modelos autoritários, existiram partidos fascistas, como no caso da Inglaterra, onde os nazistas ingleses desfilavam e faziam a saudação com o braço ereto, sob a liderança de um senhor cujo filho se tornou muito famoso nas corridas de Fórmula Um.
Querer transformar a Società Sportiva Palestra Italia em um antro de fascistas sanguinolentos é querer mudar a História. Aliás, se não sabem, os italianos também ficaram famosos pela liderança no movimento sindical e pela exportação de ideias como o anarquismo. Com muita certeza, como um time oriundo de pessoas humildes e trabalhadoras, dentro do Palestra deviam existir adeptos do anarquismo e muitos líderes sindicais. A imprensa mineira também foi povoada por muitos pioneiros italianos. Minas deve muito aos italianos pelos bons jornais que tem. Aliás, há excelentes teses de doutorado sobre o assunto nos anais da UFMG. Como nos mostrou o nosso blogueiro, é muito fácil consultar. Pena que nosso amigo tostou suas pestanas apenas na procura de provas de sua sórdida teoria.
De dentro do Palestra Italia não ouvia-se conspirações. Ouvia-se o murmúrio dos planos de construção de hospitais, escolas de medicina e engenharia e arquitetura. Muitos foram os benefícios para a comunidade da nova capital que saíram do labor e genialidade dos sócios do Palestra.
Quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu, além de adotar um nome que representava a Pátria Brasileira, o antigo Palestra doou todos seus troféus para que o metal fosse derretido e transformado em armas para nossas forças armadas.
Comparar o passado com os olhos do presente é um erro crasso. Infelizmente as pessoas erram, ao votar, ao comprar ou vender algum bem, ao escolher o time pelo qual torce e até qual colunista lê.
Àquela época, a Itália já era muito presente em toda Belo Horizonte, inclusive nos clubes adversários. É só pegar as escalações dos vários times de futebol da capital e lá veremos vários sobrenomes italianos. Um dos mais famosos foi Guaracy Januzzi, o lendário Guará (que dá nome ao troféu da Rádio Itatiaia) e que, na década de 1930, não jogava no Palestra. No início do século, a população de Belo Horizonte possuía mais italianos e descendentes do que qualquer outra nacionalidade. Mais uma prova que já nasceu sendo o TIME DO POVO!
O que o blogueiro e seu ajudante talvez não saibam é que a atual Escola Estadual Pandiá Calógeras, nasceu, batizada pelo Governo de Minas Gerais como Grupo Escolar Benito Mussolini. Só falta acusar os dirigentes de nosso estado de Fascistas empedernidos. E, um grande presente que Mussolini deu a Belo Horizonte, foi o Colégio Marconi, um magnífico edifício que tem como planta baixa o desenho da águia fascista. Os belorizontinos devem ter ficado impressionados com o presente, e com certeza devem ter elogiado muito o gesto do ditador italiano.
Assim sendo, senhor blogueiro e senhor assistente de blogueiro, provavelmente os vossos avós devem ter discutido com os amigos sobre os progressos dos fascistas de Mussolini nos anos entre 1922 e 1930. E quem sabe, àquela época, não foram simpatizantes também...

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Aprovada a Lei de Responsabilidade Fiscal do Futebol



Depois de algum tempo, e dentro dos padrões políticos brasileiros até que foi rápido, foi transformada em lei a medida provisória que tratou da "moralização" do futebol brasileiro.
Trouxe avanços, mas perdemos a oportunidade de fazermos uma verdadeira revolução dentro de nossos clubes. A medida mais atendeu ao apelo emergencial dos grandes devedores do que criou condições de que o fair-play financeiro seja perene.
A partir de hoje todos os clubes que quiserem aderir ao programa de governo tornado lei, estão com suas contas perante o fisco em dia. Todos podem buscar sua sonhada CND e fazerem suas candidaturas aos patrocínios públicos federais. Todos poderão apresentar seus projetos junto ao Ministério dos Esportes e captar recursos pela Lei de Incentivo ao Esporte.
Tal lei foi um tapa na cara, isso sim, de clubes que sempre honraram suas tradições de bons pagadores. Cruzeiro, São Paulo, Atlético do Paraná e recentemente o Flamengo (que tem trabalhado para sanar suas dívidas a despeito da nova lei) ganharam a fama de incautos e tolos.
A nova lei foi tocada em comissões onde os representantes dos clubes eram justamente os maiores devedores! Como se diz aqui em Minas Gerais, colocaram os lobos para administrarem o galinheiro.
Como torcedores que somos, resta-nos torcer para que, a partir de agora, os outros clubes tomem tento e passem a tratar suas obrigações como coisas sérias.
Este texto ficará registrado em meu blog por muito tempo, se Deus assim permitir. Quero ver quando eu retornarei a ele para republicá-lo em um novo, dando conta de que os clubes brasileiros estarão pedindo novos parcelamentos ou benesses, uma vez que estarão novamente atolados em dívidas.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Meu livro: A Fazenda do Rochedo.




        O livro A Imigração Italiana em Minas Gerais: A Fazenda do Rochedo (1888-1889) retrata o momento de chegada de várias famílias italianas, oriundas do Friuli (Nordeste da Itália) à fazenda onde foram assentados para trabalhar na cultura do café.
        Trata-se da reconstrução do momento histórico onde grandes transformações aconteceram no Brasil, como a extinção do trabalho escravo, o declínio do Império e também o golpe que instituiu a República Brasileira.
        O livro mostra que muitos mitos sobre o assunto imigração são derrubados. Sempre se ensinou que os italianos vieram para substituir o trabalho do negro. As pesquisas mostram que em Minas Gerais vieram para trabalhar lado a lado do trabalhador nacional. Em São Paulo, onde o café chegou depois de Minas Gerais, vieram para incrementar a produção sempre ávida por mão de obra.
        O estudo de uma fazenda específica, mostra como o fenômeno do acolhimento dos imigrantes foi similar em diversas partes do país, mas também como o ambiente em cada estado moldou de forma diversa os costumes dos recém-chegados. Aqui em Minas Gerais, o italiano se tornou brasileiro mais rápido que em outras partes do país.
        Com uma leitura bem leve o meu livro revela a importância da cultura italiana na formação da cultura política mineira. No nosso estado o italiano antecipou o fenômeno da diminuição dos latifúndios vinte anos antes do que ocorreu no resto do país com a Revolução de 1930. Os italianos em Minas representam quase dez por cento da população do estado e o PIB mineiro tem quarenta e cinco por cento de seu valor fornecido por empresas italianas ou de ítalo-descendentes.
        
        A seguir o texto que constará na aba do livro:

A imigração italiana em Minas Gerais: A Fazenda do Rochedo (1888-1889), de Anísio Ciscotto Filho, é uma fundamental pesquisa devido à importância do assunto que estava de há muito necessitando de começar a ser estudado. Desta forma, com este trabalho o autor traz uma valiosa colaboração para a historiografia brasileira, e mais especificamente à historiografia do Estado de Minas Gerais, ao tratar de um assunto relevante para o estudo da imigração italiana em nosso território.
Dentro de novos paradigmas metodológicos, enfrentando todas as dificuldades inerentes à realização de pesquisas em arquivos regionais, quase sempre ainda muito desorganizados, Anísio Ciscotto Filho nos brinda com este trabalho sobre a Fazenda do Rochedo, estudando famílias italianas que para lá afluíram como trabalhadores em 1888-1889, momento da libertação dos escravos e da consolidação da implantação da mão-de-obra livre em nosso país. 
O autor, combinando uma rigorosa pesquisa empírica e o uso de novos paradigmas metodológicos, reconstrói os caminhos percorridos pelas famílias italianas fixadas na Fazenda do Rochedo, distrito de Rochedo de Minas, município de São João Nepomuceno, desvendando uma intricada rede de relações, interesses e conflitos sociais e culturais. Embora um trabalho iniciante, que prenuncia possibilidades de pesquisas bem mais aprofundadas, já revela a exatidão do pesquisador e o trabalho em si confirma a maturidade da pesquisa histórica com o recorte regional, fundamental para proporcionar um amplo e aprofundado conhecimento da sociedade estadual e da própria sociedade brasileira.